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‘Eu, Daniel Blake’ traz tema importante em narrativa acessível

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Filme rendeu segunda Palma de Ouro em Cannes ao diretor Ken Loach

Crítica  | Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com

(Foto: divulgação)
Com heróis e vilões bem definidos desde o início, ‘Eu, Daniel Blake’ é o tipo de enredo que gera empatia quase que instantaneamente
Raras são as pessoas que nunca se sentiram impotentes ou injustiçadas diante da burocracia do sistema. Econômico, político, social, tecnológico, qualquer que seja. Ainda menos raro quando falamos de idosos. É este aspecto que deixa este filme tão próximo do público brasileiro, já há tempos saturado por notícias sobre as longas filas do INSS a maltratar tantos aposentados - para citar o exemplo mais comum.

Em ‘Eu, Daniel Blake’, vencedor da Palma de Ouro em Cannes no ano passado - a segunda do veterano e multipremiado diretor inglês Ken Loach (ganhou a primeira em 2006, por ‘Ventos da Liberdade’) - logo no início encontramos o personagem-título recuperando-se de um ataque cardíaco. Por ordem médica, ele deve permanecer afastado do emprego. Blake (o comediante Dave Johns, em sua estreia no cinema), um carpinteiro de 59 anos, viúvo, precisa, então, solicitar auxílio financeiro junto à previdência local. Para sua surpresa, os médicos a serviço do governo o consideram apto ao trabalho, contrariando deliberadamente a recomendação inicial. É quando sua angústia e calvário começam para valer.

Entre idas e vindas à agência e longas esperas ao telefone, Daniel precisa, também, comprovar que segue procurando emprego. Do contrário, deixará de receber o auxílio estatal. Em meio a isso, encontra Katie (Hayley Squires) e seu casal de filhos. Por razões diferentes, ela também padece da insensatez e inflexibilidade do sistema previdenciário, personificadas por funcionários tão robóticos e indiferentes quanto o atendimento eletrônico dos telefones. Vendo a mãe solteira e recém-chegada à cidade, Blake decide ajudá-la a se estabelecer na nova morada, através de pequenos reparos na estrutura da casa. Surge uma amizade sincera, como que de pai para filha. Assim, darão força um ao outro enquanto buscam solucionar suas pendências junto aos órgãos públicos.

(Foto: divulgação)
Vendo a mãe solteira e recém-chegada à cidade, Blake decide ajudá-la a se
estabelecer na nova morada. Surge uma amizade sincera,
como que de pai para filha
Com heróis e vilões bem definidos desde o início, é o tipo de enredo que gera empatia quase que instantaneamente. E daí surgem algumas fraquezas. A história, escrita por Paul Laverty (já há duas décadas roteirizando os projetos de Loach) flui bem até demais. Não há nuances, nada que gere dúvidas ao espectador quanto à índole dos personagens. Isso deixa o filme exposto ao risco da monotonia, uma vez que, aos poucos, intuímos que não haverá mudanças significativas nos traços e atitudes de Daniel e Katie. A partir de certo momento, fica tudo muito convencional e previsível, a ponto de já sabermos como tudo terminará. Aos mais atentos, é possível até mesmo antever o ápice da cena final.

Ainda assim, ‘Eu, Daniel Blake’ tem o mérito de apontar o dedo diretamente em uma ferida que é a realidade de milhões (provavelmente bilhões) de seres humanos. De fato, dar voz tanto ao cidadão comum quanto às minorias é uma característica da obra de Ken Loach. Interessante, também, notar que situações desse tipo ocorrem em países desenvolvidos com frequência maior do que muitos imaginam. Ficamos com a noção de que descaso e opressão por parte do governo ocorrem em todo lugar.

Veja o trailer:


Eu, Daniel Blake (I, Daniel Blake) - Reino Unido/França/Bélgica, 100 min, 2016.
Em cartaz desde 05/01.

As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
‘Eu, Daniel Blake’ traz tema importante em narrativa acessível ‘Eu, Daniel Blake’ traz tema importante em narrativa acessível Reviewed by Redação on 1/10/2017 02:18:00 PM Rating: 5

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