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‘Um Banho de Vida’ arranca risadas sem deixar de comover

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Comédia francesa é inspirada em história verídica ocorrida na Suécia

Crítica | Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com

(Foto: divulgação)
Maior bilheteria na França em 2018, filme ainda foi indicado a 10 César este ano,
vencendo o de ator coadjuvante, com Philippe Katerine (de sunga vermelha)

Filmes que envolvam boxe, basquete ou futebol americano você já viu aos montes. Ou pelo menos soube a respeito. Mas quantas produções sobre uma equipe amadora de nado sincronizado masculino você já assistiu? Eis um primeiro atrativo para esta divertida e arrebatadora comédia francesa.

Embora se baseie em uma história verídica, ocorrida na Suécia durante os anos 2000, a premissa lembra a do britânico ‘Ou Tudo ou Nada’ (1997), inesperado e multipremiado sucesso de Peter Cattaneo. Um grupo de homens em dificuldades se reúne para treinar com afinco uma atividade coletiva da qual nenhum deles, à exceção do líder, jamais fora íntimo, visando uma grande apresentação pública.

(Foto: divulgação)
Ex-atleta profissional da modalidade,
Delphine (Virginie Efira) é a técnica da equipe
No filme da década de 90 os caras enfrentam, basicamente, um perrengue financeiro, pois acabam de perder o emprego na falida siderúrgica local. A solução encontrada é montar uma boate feminina. Por isso praticam coreografias sensuais que devem culminar em stripteases. O tom é de crítica moderada às políticas econômicas do governo Thatcher (1979-1990), encerrado anos antes.

Já ‘Um Banho de Vida’ mergulha na questão humana. Os problemas dos protagonistas são variados, por isso há um cuidado maior em nos apresentar com calma cada um dos personagens principais. O primeiro deles, interpretado pelo mais famoso do elenco, Mathieu Amalric (de ‘O Escafandro e a Borboleta’, 2007), é o depressivo Bertrand. Desempregado há quase um ano, toma medicamentos controlados de forma compulsiva, seus filhos já não o respeitam, seu desempenho sexual é nulo. Um enorme marasmo domina sua vida.

(Foto: divulgação)
Os membros da equipe enfrentam variados problemas na vida pessoal
Laurent (Guillaume Canet, de 'Rock'n'Roll: Por Trás da Fama', 2017) é negativista. Seus surtos de agressividade verbal, cuja raiz se encontra em antigos traumas da juventude, têm afastado a esposa e o filho cada vez mais. Divorciado, Marcus (Benoît Poelvoorde, de ‘Coco Antes de Chanel’, 2009) é mulherengo e péssimo empreendedor. Seu negócio vai de mal a pior, afundando em sucessivos prejuízos.

Simon (Jean-Hugues Anglade) é um músico independente que mora num trailer e vive de bicos e cachês das pequenas apresentações que faz, de onde retira boa parte para a pensão da ressentida filha, que mantém fria a relação com o amoroso pai. O solitário Thierry (Philippe Katerine, de 'Deixe a Luz do Sol Entrar', 2017) é a inocência em pessoa. Sua ingenuidade quase infantil o torna alvo fácil de insultos e brincadeiras abusivas. Uma comovente atuação premiada com o César (equivalente ao Oscar, na França) de ator coadjuvante este ano.

(Foto: divulgação)
Leïla Bekhti interpreta Amanda, treinadora do time polo aquático
que resolve ajudar a equipe de nado sincronizado
A equipe é treinada por Delphine (Virginie Efira, de 'Romance à Francesa'), ex-atleta profissional da modalidade. Apesar de jovem, interrompeu a carreira precocemente quando sua parceira de coreografias aquáticas ficou paraplégica. Em constante batalha contra o alcoolismo, idealiza romances que já não existem para suprir carências afetivas e se manter emocionalmente estável.

Através da piscina, a vida de todos eles deixa de estar à deriva. Lá afogam as angústias e encharcam-se em alegria. O roteiro e direção de Gilles Lellouche (ator de 'A Conexão Francesa', 2014), conduzindo um longa-metragem sozinho pela primeira vez, surpreende ao conseguir equilíbrio entre uma comédia que arranca boas risadas, muitas vezes no limite do politicamente correto, com momentos de grande sensibilidade dramática.

Mesmo optando por estruturas narrativas seguras, como a trilha sonora recheada de sucessos da música pop que norteiam a ágil edição, o resultado é bastante agradável. ‘Banho de Vida’ é, de fato, um filme que levanta o ânimo e nos faz sair leve do cinema, sem, contudo, deixar de refletir com admirável profundidade sobre inúmeras mazelas humanas. Apesar de um desfecho excessivamente positivo, não desvanece a ideia que constrói ao longo de sua projeção: não se trata de como dar fim aos problemas da vida. Aqui ou ali, inevitavelmente sempre existirão. Trata-se, sim, de como lidar e conviver com cada um deles.

VEJA O TRAILER:
Um Banho de Vida (Le Grand Bain) - Bélgica/França, 122 min, 2018
Dir.: Gilles Lellouche - Estreou em 21/3.

As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
‘Um Banho de Vida’ arranca risadas sem deixar de comover ‘Um Banho de Vida’ arranca risadas sem deixar de comover Reviewed by Thiago S. Mendes on 3/26/2019 07:14:00 AM Rating: 5

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