Concorrendo a 4 Oscar, ‘Mudbound’ traz denso relato sobre intolerância racial nos EUA
Drama rendeu primeira indicação feminina ao prêmio de melhor fotografia
Crítica | Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com
(Foto: divulgação)
Se o cinema costuma ser um reflexo da sociedade na qual se insere, não importando que tipo de história conte, é sintomático que boa parte dos indicados ao Oscar deste ano pregue, sob diferentes facetas, a aceitação e tolerância ao próximo.
À primeira vista, corremos o risco de menosprezar ‘Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi’, classificando-o como sendo apenas mais um filme sobre os absurdos cometidos no sul norte-americano, durante o período anterior à lei dos direitos civis. Acontece que, mais de 50 anos após o decreto destas leis, atos de violência e discriminação contra a população negra continuam sendo noticiados com frequência assustadora, sobretudo nos EUA. É precisamente devido a estes fatos que filmes como ‘Mudbound’ permanecem necessários. Ainda mais quando tão bem realizados, como é o caso de ‘Lágrimas Sobre o Mississippi’, quarto longa-metragem da diretora e roteirista Dee Rees.
(Foto: divulgação)
Ao longo da década de 1940, acompanhamos a abusiva relação entre a família McAllan, fazendeiros caucasianos, e a família Jackson, agricultores afrodescendentes que cuidam daquela terra. O tratamento não se distancia muito do que se dava na época da escravidão, lembrando mais as condições entre vassalos e senhores feudais do que propriamente entre homens livres.
O racismo ainda corre solto por aquelas bandas e os sentimentos se acentuam com o fim da Segunda Guerra. O retorno dos soldados sobreviventes traz de volta Jamie (Garrett Hedlund), caçula dos McAllan, e Ronsel (Jason Mitchell), primogênito dos Jackson. Se na cultura norte-americana há um laço tão forte quanto o de sangue, é o laço da guerra. Jamie e Ronsel estão eternamente irmanados, e não há etnia ou cor de pele que desfaça esse elo. A relação entre os dois passa a catalisar toda a atenção da trama, e consequências serão inevitáveis.
(Foto: divulgação)
O ousado roteiro, adaptação do romance homônimo de Hillary Jordan, e indicado ao Oscar, nos conta a história sob o ponto de vista de seis personagens (três de cada família), com ocasionais narrações na voz de cada um deles. Inserir locuções é sempre um desafio, sob o risco de se tornarem meras muletas narrativas. Apostar em vários narradores é quase induzir o espectador à confusão. ‘Mudbound’, contudo, se sai (muito) bem, pois o recurso é usado com precisão cirúrgica e nos permite, sim, mergulhar profundamente na intimidade de cada personagem. E conhecer suas motivações e caráter é decisivo para nos conectar inteiramente ao filme.
Embora não seja favorito em nenhuma das quatro categorias a que concorre, ‘Mudbound’ já é histórico por tornar Rachel Morrison a primeira mulher indicada ao Oscar de melhor fotografia. Por sinal, Rachel também é responsável pela fotografia de ‘Pantera Negra’, que assim como ‘Mudbound’, acaba de entrar em cartaz no Brasil.
Outro feito notável de ‘Lágrimas Sobre Mississipi’ é a dupla indicação de Mary J. Blige. Além de concorrer ao prêmio como atriz coadjuvante, pelo papel de Florence Jackson, é intérprete e coautora de ‘Mighty River’, que disputa o Oscar de melhor canção original.
“A resposta é o amor/ O ódio é um tumor” - tradução livre, preservando a rima, para “Love is the answer/ Hate is a cancer”, um dos fortes versos de ‘Mighty River’.
Veja o trailer:
Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi (Mudbound) - EUA, 134 min, 2017
Dir.: Dee Rees - Estreou em 15/2.
As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
Crítica | Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com
(Foto: divulgação)
Em 'Mudbound', Jamie (Garrett Hedlund) e Ronsel (Jason Mitchell) estão unidos e marcados pela guerra |
(Foto: divulgação)
Jason Clarke e Carey Mulligan interpretam Henry, irmão mais velho de Jamie, e Laura McAllan |
(Foto: divulgação)
A cantora e atriz Mary J. Blige (esq) conversa com a diretora Dee Rees (dir) no set de 'Mudbound' |
“A resposta é o amor/ O ódio é um tumor” - tradução livre, preservando a rima, para “Love is the answer/ Hate is a cancer”, um dos fortes versos de ‘Mighty River’.
Veja o trailer:
Dir.: Dee Rees - Estreou em 15/2.
As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
Concorrendo a 4 Oscar, ‘Mudbound’ traz denso relato sobre intolerância racial nos EUA
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2/16/2018 10:22:00 AM
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