‘O Sono da Morte’ tem ideia interessante, mas não escapa de soluções convencionais
Terror flerta com teorias da psicanálise e parapsicologia
Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com
(Foto: divulgação)
A premissa deste filme é interessante: os sonhos e pesadelos do pequeno Cody, um órfão de 8 anos recém-adotado, se materializam enquanto ele dorme, desaparecendo assim que acorda. O garoto em questão é interpretado pela revelação mirim deste ano, Jacob Tremblay. Seu papel em ‘O Quarto de Jack’ (2015) lhe rendeu inúmeros prêmios e indicações, incluindo o prestigiado SAG Awards, do sindicato dos atores norte-americanos. Aqui, mais uma vez Tremblay nos mostra o futuro brilhante que tem pela frente.
A história começa como um drama de superação. Um casal ainda em luto pela morte acidental do único filho está à procura de uma criança para adotar. Jessie (Kate Bosworth, de ‘Para Sempre Alice’, 2014) e Mark (Thomas Jane, que protagonizou ‘O Justiceiro’ em 2004), por sugestão da assistente social, decidem acolher Cody, que já passara por outros dois casais anteriormente, sendo rejeitado por ambos. O motivo, imaginamos, está diretamente relacionado aos sonhos reais do garoto.
Contrariando a impressão inicial, chama a atenção o fato de ‘O Sono da Morte’ não se tratar de um terror sobrenatural, uma vez que não há fantasmas ou demônios - no sentido espiritual da coisa. Não se faz menção a qualquer religião. Os “monstros” que porventura surgem são, à rigor, manifestações físicas da mente de Cody. É, portanto, um suspense sob o viés da fantasia, mediante a paranormalidade da qual o garoto é dotado.
(Foto: divulgação)
Metaforicamente, pode-se dizer que os fenômenos apresentados evocam os estudos de Freud sobre o inconsciente humano. Isso fica claro quando, em certo momento, os personagens concluem que cada ser projetado trata-se, na verdade, do próprio Cody, afinal todas as interações que experimentamos ao sonhar nada mais são do que conversas com nós mesmos. Objetivamente, o que vemos faz parte do campo de estudo da parapsicologia - “isso non ecziste!”, já diria Padre Quevedo. Estes aspectos tornam a ideia do filme ainda mais interessante.
Como tudo na vida, entretanto, no cinema nem sempre - ou quase nunca - o resultado é o esperado. Mike Flanagan, que vem construindo a carreira dirigindo produções do gênero (lançou no semestre passado ‘Hush: A Morte Ouve’) segue com eficiência a cartilha do suspense/terror, com controle absoluto do ritmo, uma vez que também assina a edição do projeto. Apesar disso, o roteiro, assinado pelo mesmo Flanagan, em parceria com Jeff Howard, não escapa de soluções convencionais para os conflitos que se apresentam. Os desfechos soam artificiais e apressados em certos momentos. Apela-se além da conta para a dor da mãe que perdeu o filho e tem a falsa chance de reencontrá-lo através do dom que Cody possui. Pode arrancar lágrimas, mas soam manipuladas, fora da naturalidade com que o enredo até então se desenrola. Desnecessário, visto que a empatia emocional entre público e casal já se estabelece muito antes.
Há de se enaltecer a nobreza dos produtores em promover a adoção de crianças órfãs. Louva-se, também, que um filme aborde a riqueza da imaginação infantil, e o quanto isso é importante para o desenvolvimento psicológico do ser humano, suscetível a traumas desde muito cedo. Ou seja, é uma produção até bem-intencionada, mas é claro que só de boas intenções o inferno já está cheio.
Veja o trailer:
O Sono da Morte (Before I Wake - EUA, 97 min, 2016).
Em cartaz desde 01/9.
As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com
(Foto: divulgação)
Os “monstros” que porventura surgem são, à rigor, manifestações físicas da mente de Cody |
A história começa como um drama de superação. Um casal ainda em luto pela morte acidental do único filho está à procura de uma criança para adotar. Jessie (Kate Bosworth, de ‘Para Sempre Alice’, 2014) e Mark (Thomas Jane, que protagonizou ‘O Justiceiro’ em 2004), por sugestão da assistente social, decidem acolher Cody, que já passara por outros dois casais anteriormente, sendo rejeitado por ambos. O motivo, imaginamos, está diretamente relacionado aos sonhos reais do garoto.
Contrariando a impressão inicial, chama a atenção o fato de ‘O Sono da Morte’ não se tratar de um terror sobrenatural, uma vez que não há fantasmas ou demônios - no sentido espiritual da coisa. Não se faz menção a qualquer religião. Os “monstros” que porventura surgem são, à rigor, manifestações físicas da mente de Cody. É, portanto, um suspense sob o viés da fantasia, mediante a paranormalidade da qual o garoto é dotado.
(Foto: divulgação)
Há de se enaltecer a nobreza dos produtores em promover a adoção de crianças órfãs |
Como tudo na vida, entretanto, no cinema nem sempre - ou quase nunca - o resultado é o esperado. Mike Flanagan, que vem construindo a carreira dirigindo produções do gênero (lançou no semestre passado ‘Hush: A Morte Ouve’) segue com eficiência a cartilha do suspense/terror, com controle absoluto do ritmo, uma vez que também assina a edição do projeto. Apesar disso, o roteiro, assinado pelo mesmo Flanagan, em parceria com Jeff Howard, não escapa de soluções convencionais para os conflitos que se apresentam. Os desfechos soam artificiais e apressados em certos momentos. Apela-se além da conta para a dor da mãe que perdeu o filho e tem a falsa chance de reencontrá-lo através do dom que Cody possui. Pode arrancar lágrimas, mas soam manipuladas, fora da naturalidade com que o enredo até então se desenrola. Desnecessário, visto que a empatia emocional entre público e casal já se estabelece muito antes.
Há de se enaltecer a nobreza dos produtores em promover a adoção de crianças órfãs. Louva-se, também, que um filme aborde a riqueza da imaginação infantil, e o quanto isso é importante para o desenvolvimento psicológico do ser humano, suscetível a traumas desde muito cedo. Ou seja, é uma produção até bem-intencionada, mas é claro que só de boas intenções o inferno já está cheio.
Veja o trailer:
O Sono da Morte (Before I Wake - EUA, 97 min, 2016).
Em cartaz desde 01/9.
As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
‘O Sono da Morte’ tem ideia interessante, mas não escapa de soluções convencionais
Reviewed by Redação
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9/02/2016 02:44:00 PM
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