Documentos comprovam que a CIA se infiltrou na militância de esquerda durante ditadura

Revista Época teve acesso a informações da Marinha que revelam como o serviço secreto americano mantinha informantes dentro de organizações de oposição

A revista Época teve acesso com exclusividade a documentos que revelam o envolvimento direto dos governos militares brasileiros com a Central Intelligence Agency (CIA), serviço secreto dos Estados Unidos. Os documentos confidenciais do centro de Informação da Marinha (Cenimar) comprovam que a CIA mantinha informantes infiltrados em partidos brasileiros de esquerda durante a ditadura militar instalada em 1964. É a primeira vez que esse conteúdo se torna público.

Em um dos arquivos do Cenimar, a que Época teve acesso, consta o caso de Manoel dos Santos Guerra Júnior, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Segundo os documentos, em março de 1963, Guerrinha – como era conhecido – recebeu um desconhecido que se apresentou como agente da CIA e o convidou para trabalhar como informante remunerado da agência americana. O militante teria recusado a primeira oferta, mas depois veio à tona a colaboração de Guerra Júnior no Cenimar e no Conselho de Segurança Nacional (CSN) em troca de dinheiro.

Segundo os documentos, após o ocorrido, Guerrinha passou a trabalhar para a CIA em troca de um salário mensal de 60 mil cruzeiros, o aluguel de um apartamento e um emprego formal. O caso, registrado em um relatório do Cenimar, é um documento tarjado com o selo “ultrassecreto” e faz parte de um pacote de papeis identificado como Operação Master.

Hoje, aos 79 anos, Guerra Júnior nega ter sido agente da CIA, do CSN e do Cenimar, embora tenha confirmado o uso do apartamento. “Estas acusações são um absurdo”, diz. “Nunca fui informante e também não é verdade que eu tenha tido emprego no CSN. Estas informações são uma falsificação. Estes relatórios devem ter sido forjados por organizações anticomunistas para justificar a verba que recebiam do exterior”, afirma Guerrinha.

Givaldo Siqueira, antigo dirigente do PCB, revelou a Época que era sabida a infiltração da CIA no partido antes mesmo do golpe. “Os companheiros que eram abordados pela CIA e nos avisavam era mandados para o exterior, mas não sabíamos de todos que eram procurados”, revelou Siqueira.

Fonte: Editora Globo