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‘O Insulto’ não é favorito, mas é feito sob medida para Oscar de filme estrangeiro

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Filme marca primeira indicação libanesa na história da premiação norte-americana

Crítica | Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com

(Foto: divulgação)
A discussão entre Tony (Adel Karam) e Yasser (Kamel El Basha)
deixa o país à beira de uma crise política e diplomática

Já estamos em acelerado clima de Carnaval, mas não se engane: não só os foliões do samba, das marchinhas e dos trios elétricos estão empolgados neste momento. Resta menos de um mês para o Oscar 2018 e os entusiastas da premiação também estão em ritmo de festa, correndo atrás dos indicados, que estreiam às pencas por estes dias - a cada semana, um novo bloco.

‘O Insulto’ prevaleceu sobre produções de quase 90 países para conquistar seu lugar entre os cinco finalistas da categoria dos filmes estrangeiros. Trata-se da primeira indicação ao Oscar da história do Líbano, e logo reconhecemos os méritos que o favorecem nesta disputa.

A trama é a seguinte: num belo dia, Tony (Adel Karam), mecânico e seguidor fervoroso do partido cristão, da maneira mais fútil possível, discute com Yasser (Kamel El Basha), empreiteiro palestino, que o xinga (tendemos, inclusive, a concordar com Yasser). Tony não aceita o desaforo e exige do palestino um pedido formal de desculpas. O pedido não vem (muito ao contrário, aliás), e o mecânico aciona o empreiteiro judicialmente. O caso toma proporções midiáticas, que impulsionam manifestações populares e deixam o pequeno país à beira de uma crise política e diplomática.

(Foto: divulgação)
Kamel El Basha (ao centro) recebeu o prêmio de melhor ator
no último Festival de Veneza, por seu papel em 'O Insulto'
Estamos, portanto, diante de uma premissa simples, mas de apelo universal: a importância de se tolerar o próximo (sua etnia e religião, no caso), com a bem intencionada moral que nos alerta sobre as consequências que atos impulsivos podem causar. “Sabemos como se começa uma briga, mas nunca como ela terminará”, já diria o sábio. Pode até parecer piegas ao ler a frase, mas, bem sabemos, é esse tipo de história - edificante, de interesse global e alinhada com o atual panorama político, sobretudo em uma região sempre em evidência, como o Oriente Médio - que agrada em cheio a turma da Academia norte-americana. Embora a comédia sueca ‘The Square’, de Ruben Östlund, seja a favorita de momento.

Seria injusto não valorizar, do mesmo modo, o roteiro e direção de Ziad Doueiri, que, da metade do filme em diante, transita do drama urbano a um típico suspense de tribunal sem que o espectador sinta qualquer solavanco, resultando num filme sempre ágil e interessante. É notável a sutil crítica feita ao teatro arquitetado (e amado) por boa parte dos advogados, que parecem mais preocupados em zelar pelo próprio ego do que por seus clientes. Afinal, é também sobre lidar com o orgulho pessoal que o filme trata.

(Foto: divulgação)
O diretor Ziad Doueiri transita do drama urbano
a um típico suspense de tribunal com desenvoltura
Cabe dizer, aqui, que Doueiri deixou o Líbano ainda nos anos 80 para estudar cinema nos EUA, onde se tornou uma espécie de discípulo de Quentin Tarantino, sendo seu assistente de câmera até o final dos anos 90, quando mudou-se para a Europa e iniciou carreira como roteirista e diretor. Se ter amigos em Hollywood pode não ajudar na campanha por uma indicação - e eventual vitória - no Oscar, certamente não atrapalha.

É que ‘The Square’ também conta com este tipo de trunfo, ao ter em seu elenco uma das atrizes do momento (Elisabeth Moss, da série ‘The Handmaid’s Tale’) e um dos mais valorizados coreógrafos de cenas de ação de Hollywood (Terry Notary).

O fato é que a categoria de filme estrangeiro é uma das mais traiçoeiras para os apostadores e, verdade seja dita, historicamente este tipo de comédia anárquica, como a de ‘The Square’, costuma dar com os burros n’água quando se trata de Oscar. O alemão ‘Toni Erdmann’, de Maren Ade, que o diga: no ano passado era ainda mais favorito que seu par sueco deste ano, mas sucumbiu frente ao iraniano ‘O Apartamento’, de Asghar Farhadi.

E a seleção atual conta, ainda, com o chileno ‘Uma Mulher Fantástica’, de Sebastián Lelio, que vem quietinho, correndo por fora, trazendo uma história sobre outro tipo de tolerância, a de gênero, que parece ainda mais alinhada com as preocupações atuais da Academia.

É esperar para ver. Pulemos Carnaval.

Veja o trailer:
O Insulto (L’insulte) - Líbano/Bélgica/Chipre/França/EUA, 112 min, 2017
Dir.: Ziad Doueiri - Estreou em 08/2.

As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
‘O Insulto’ não é favorito, mas é feito sob medida para Oscar de filme estrangeiro ‘O Insulto’ não é favorito, mas é feito sob medida para Oscar de filme estrangeiro Reviewed by Thiago S. Mendes on 2/09/2018 07:15:00 AM Rating: 5

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