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Suspense de primeira, demônios de ‘Thelma’ têm origem em culpa cristã

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Filme representa a Noruega na corrida pelo Oscar de filme estrangeiro em 2018

Crítica | Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com

(Foto: divulgação)
Aos 23 anos, norueguesa Eili Harboe interpreta personagem-título de 'Thelma'



Muito já se debateu a respeito das consequências (boas e ruins) que uma educação pautada pela moral e ensinamentos religiosos podem causar na formação social, psicológica e afetiva de um indivíduo. Nas artes em geral, o enfoque normalmente se dá na repressão que se faz a determinados comportamentos, práticas e atitudes, cujos vetos, mais cedo ou mais tarde, conforme o amadurecimento da pessoa, acabam sendo questionados e, eventualmente, contrariados.

Em ‘Thelma’, novo filme do emergente diretor dano-norueguês Joachim Trier (de ‘Oslo, 31 de Agosto’, 2011), a personagem-título (encarnada por Eili Harboe) foi criada sob forte influência da religião dos pais, cristãos devotos. Jovem adulta em pleno processo de emancipação, Thelma ingressou recentemente na faculdade, e se vê, pela primeira vez, morando sozinha e distante da família. Por consequência, e até com incentivo do pai, tem a chance de viver novas experiências e costumes. Um mundo novo e fascinante se apresenta diante dela. Aos olhos do cristianismo, um mundo de tentações.

Não por acaso, Thelma estuda biologia e ciências naturais. Para ela, o criacionismo já não tem vez. Darwin prevaleceu. Via de regra, seus colegas compartilham do mesmo discurso cético. Não é de hoje, centros universitários colocam à prova qualquer crença que não possa ser explicada de maneira lógica e racional, sobretudo em solo escandinavo (o filme se passa na Noruega), região que, segundo pesquisas, abriga as maiores porcentagens de ateus e agnósticos no mundo.

(Foto: divulgação)
Thelma sofre inexplicadas convulsões epilépticas,
conforme desenvolve amizade com Anja (Okay Kaya)
Thelma lida bem com a situação, até conhecer Anja (Okay Kaya). Ao primeiro contato visual com a colega, ainda desconhecida, sofre um ataque epiléptico. Não será o único que veremos. Conforme se tornam amigas, novos episódios ocorrem, em circunstâncias com requintes cada vez mais sobrenaturais. Thelma está sob pressão. Os sentimentos que desenvolve por Anja a atormentam. Sofre, também, pelo receio de decepcionar os pais. A serpente que surge em certos momentos define a questão: Thelma sente-se pecaminosa, eco direto da culpa religiosa incutida em sua criação.

Da relação entre os ataques convulsivos e a atração reprimida de Thelma por Anja, Joachim Trier nos presenteia com um suspense de primeira linha, em que tem a elegância de expor temas sensíveis e importantes sem pieguice ou apelos morais. Em uma bela ironia poética, veremos que se há um consenso entre ciência e preceitos religiosos é o de que a verdade liberta, por mais dolorido que o processo de descoberta possa ser.

Com planos e movimentos cuidadosamente elaborados, que encorpam uma sedutora e impactante atmosfera de mistério, e autor de uma obra ainda curta, mas já consistente, Trier é um nome para se ficar de olho, e ‘Thelma’ é a prova mais recente.

Veja o trailer:

Thelma (Thelma) - Noruega/França/Dinamarca/Suécia, 117 min, 2017
Dir.: Joachim Trier - Estreou em 30/11.

As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
Suspense de primeira, demônios de ‘Thelma’ têm origem em culpa cristã Suspense de primeira, demônios de ‘Thelma’ têm origem em culpa cristã Reviewed by Thiago S. Mendes on 12/04/2017 07:12:00 PM Rating: 5

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