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‘O Que Está Por Vir’ traz debate equilibrado entre passado e presente

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Filme é estrelado por Isabelle Huppert, uma das atrizes mais premiadas do ano

Crítica  | Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com

(Foto: divulgação)
Acontecimentos repentinos e importantes na vida de Nathalie (Isabelle Huppert)
 acabam por levá-la naturalmente a questionar-se
Dia desses o mestre Inácio Araújo bem lembrou que “cinema é um contínuo diálogo entre passado e presente”. Isso se dá, por vezes, de forma sutil, nas entrelinhas das cenas, embutido entre gestos e diálogos. Outras tantas vezes a ideia é apresentada de maneira mais direta, explícita, chegando a ser, ela mesma, a proposta motriz do filme. Ainda que camuflada pela trama que envolve a trajetória dos personagens centrais.

É o caso de ‘O Que Está Por Vir’, quinto longa-metragem da jovem diretora e roteirista Mia Hansen-Løve (‘Eden’, 2014), considerada uma das cineastas mais promissoras do cinema francês. Em seu novo filme, acompanhamos Nathalie Chazeaux (Isabelle Huppert, protagonista do recente e elogiado ‘Elle’), professora de filosofia do ensino secundário, autora de diversas publicações na área, realizada no trabalho, mãe de um casal de filhos já adultos, e que acredita viver um casamento estável com Heinz (André Marcon), seu marido e colega de profissão.

É a partir do contato com Fabién (Roman Kolinka, que esteve no filme anterior da diretora, ‘Eden’), militante estudantil e um de seus mais queridos ex-alunos, que Nathalie começa a ter seus atuais valores e costumes postos em cheque. Acontecimentos repentinos e importantes em sua vida acabam por levá-la naturalmente a questionar-se. Nathalie encontra-se perdida entre quem costumava ser e o que se tornou. Ou entre o mundo em que costumava viver e aquele em que vive agora. Passado e presente em pleno debate existencial.

Desta forma, ‘O Que Está Por Vir’ trata-se, também, de uma reflexão entre a geração da qual Nathalie faz parte, que se estabeleceu a partir do movimento de estudantes e operários de Maio de 1968 - considerada a maior greve geral da história e ponto de ebulição para uma série de mudanças comportamentais na sociedade francesa, que logo se espalhariam por todo o mundo ocidental - traçando um paralelo com o movimento estudantil que foi às ruas em 2010 (época em que o filme se passa) para protestar contra a reforma da previdência proposta pelo então presidente francês, Nicolas Sarkozy, que ocupou o cargo de 2007 a 2012, quando fracassou na tentativa de se reeleger.

(Foto: divulgação)
As cores leves e a sobriedade de cenários e figurinos são escolhas
acertadas da jovem diretora e roteirista Mia Hansen-Løve 
Felizmente Hansen-Løve não faz da importância do tema um pretexto para que o filme seja maçante. Ao contrário, a cineasta aposta na leveza da abordagem para ir, aos poucos, nos envolvendo com a questão. As cores leves e a sobriedade de cenários e figurinos são escolhas acertadas que contribuem decisivamente para que seu método tenha êxito. É como se Hansen fosse ela própria a professora que utiliza da suavidade de sua didática como estratégia para que os “alunos-espectadores” assimilem o conteúdo. Nada mais apropriado para um filme que conta uma história tão intimamente ligada ao sistema de ensino e seus agentes.

Se em um passado nada distante a temática seria recebida com frieza e distanciamento pelos lados de cá, basta uma rápida olhada no noticiário doméstico para notar o quão pertinente o assunto se tornou a nós, tendo em vista as propostas de reformas do atual governo. É fácil, também, relacionar o momento presente sob a perspectiva de quem foi às ruas pelas “Diretas, Já” nos anos 1980, ou ainda dos “caras pintadas” de 1992. Digo isso porque em 1968 o Brasil começava a viver os anos mais duros de sua ditadura, com o AI-5 prestes a ser decretado. Um contexto bem diferente, portanto, do que a França vivia. Daí que a comparação mais viável provavelmente seja com os movimentos citados.

O fato é que não haveria momento mais oportuno para um filme que traz esse tipo de reflexão estrear no país. O cinema mantém, assim, seu papel artístico fundamental de refletir a sociedade contemporânea em que se insere. Bom porque estimula o debate. Melhor ainda por fazê-lo de maneira equilibrada e competente.

Veja o trailer:


O Que Está por Vir (L’Avenir) - França/Alemanha, 102 min, 2016.
Em cartaz desde 22/12.

As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
‘O Que Está Por Vir’ traz debate equilibrado entre passado e presente ‘O Que Está Por Vir’ traz debate equilibrado entre passado e presente Reviewed by Redação on 12/23/2016 03:50:00 PM Rating: 5

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