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‘Últimos Dias no Deserto’ aborda de maneira original episódio da vida de Jesus

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Filho de García Marquéz assina roteiro e direção

Por Thiago Mendes
thiagomendes@portaltelenoticias.com

(Foto: divulgação)
Em ‘Últimos Dias no Deserto’ acompanhamos parte dos 40 dias que Jesus teria passado em jejum
e oração nas terras ermas da Judeia
Muito já se filmou sobre a vida de Jesus, redentor da humanidade segundo o cristianismo. A maior parte dessas produções busca narrar toda a sua história, baseada nos evangelhos contidos no Novo Testamento bíblico, com ênfase em seus estimados três anos de vida pública. A mais notável talvez seja ‘O Evangelho Segundo Mateus’ (1964), do mestre italiano Pier Paolo Pasolini. A mais ousada é, sem dúvida, ‘A Última Tentação de Cristo’ (1988), de Martin Scorsese. A mais inusitada, o musical de Norman Jewison, ‘Jesus Cristo Superstar’ (1973). Houve, ainda, a minissérie de Franco Zeffirelli, ‘Jesus de Nazaré’ (1977), reprisada inúmeras vezes no Brasil. Sem falar em outros tantos filmes que praticam uma releitura simbólica da mesma história, adaptando-a aos dias atuais - destaco aqui o premiado ‘Jesus de Montreal’ (1989), e também o controverso ‘A Idade da Terra’, obra derradeira do brasileiro Glauber Rocha.

O que é raro de se ver são recortes específicos da vida de Jesus, como fez Mel Gibson no impactante ‘A Paixão de Cristo’ (2004), onde relata as 12 horas que precedem sua crucificação. Em ‘Últimos Dias no Deserto’, como o título sugere, acompanhamos parte dos 40 dias que teria passado em jejum e oração nas terras ermas da Judeia, logo após ser batizado por João - antes, portanto, de publicamente declarar-se “Filho de Deus” e iniciar sua missão.

(Foto: divulgação)
O diretor é bem-sucedido ao mostrar tanto o Diabo, quanto o próprio Jesus,
interpretados pelo mesmo - e cada vez mais maduro - Ewan McGregor
O diretor e roteirista colombiano Rodrigo Garcia (de ‘Albert Nobbs’, 2011) é bem-sucedido ao mostrar tanto o Diabo tentador, quanto o próprio Jesus, interpretados pelo mesmo - e cada vez mais maduro - Ewan McGregor (‘O Impossível’, 2012). Mostrá-los como imagem espelhada um do outro pode até ofender cristãos mais puristas, mas com isso Garcia nos remete a duas ideias muito pertinentes: a primeira é o quanto entramos em conflito com nós mesmos ao longo da vida; em quantas situações nos vemos como nossos próprios tentadores, questionando os próprios propósitos e valores? Situação bem cabível, uma vez que Jesus lá estava exatamente em preparação para sua vida pública como messias.

A segunda ideia, mais mística, evoca a lenda germânica do “doppelgänger”, ou o “mito do duplo”, em que uma entidade sobrenatural surge como uma cópia fisicamente idêntica a pessoa, mas com caráter e personalidade opostas a esta. Ou seja, surge para confundir e atrapalhar o par original. Claro que neste caso a ideia caminha muito mais para o lado poético-filosófico da questão, mas ainda assim é uma boa sacada.

Garcia inova, também, ao nos mostrar um hipotético encontro entre Jesus e uma família acampada no deserto. O pai (Ciáran Hinds), um comerciante de materiais de construção, procura por tipos de rochas que interessem ao seu negócio. Traz com ele a esposa adoecida (Ayelet Zurer) e o filho adolescente (Tye Sheridan) - seus nomes não nos são revelados. Mais uma vez temos a ideia do espelhamento aqui: pai, mãe, filho - Jesus, Maria, José. O pai naturalmente procura ensinar a profissão ao filho - como a carpintaria transmitida de José para Jesus. Mas há um embate aqui, pois o rebento tem outros planos para sua vida. Cabe ao próprio Filho de Deus mediar o conflito. É este, afinal, outro tema importante do filme: a, não rara, conturbada relação entre pai e filho. Por sinal, todos os argumentos que o demônio tenta plantar na mente de Jesus tem o intuito de romper sua proximidade com o Pai celestial.

É a partir desta inesperada convivência entre a família e o “homem santo” - como o patriarca o chama - que Jesus irá definir o duelo particular contra o seu “duplo”, decidindo o rumo de sua missão na Terra.

É um filme de contemplação e diálogo. O visual atrativo do deserto auxilia na reflexão. A fotografia é do mexicano Emmanuel Lubezki, que recentemente realizou a façanha de conquistar seu terceiro Oscar consecutivo (‘Gravidade’, ‘Birdman’ e ‘O Regresso’). A título de curiosidade, o diretor e roteirista Rodrigo Garcia é filho do Nobel de Literatura Gabriel García Márquez (1927-2014).

Veja o trailer:


Últimos Dias no Deserto (Last Days in The Desert - EUA, 98 min, 2015).
Em cartaz desde 08/9.

As opiniões expressas nessa coluna são de inteira responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Portal Telenotícias.
‘Últimos Dias no Deserto’ aborda de maneira original episódio da vida de Jesus ‘Últimos Dias no Deserto’ aborda de maneira original episódio da vida de Jesus Reviewed by Redação on 9/13/2016 04:44:00 PM Rating: 5

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